sábado, 31 de dezembro de 2011



ANITA UMA MULHER
episodio I
cotidiano

ANITA UMA MULHER

Cotidiano

Me chamo Anita.
Sou uma mulher mais ou menos resolvida, casada, mãe de dois filhos lindos.
Meu marido nunca foi aquele amante que nos mulheres sonhamos em ter, um atleta sexual, ma o amor veio preenchendo essa lacuna da nossa convivência.
Tenho 49 anos, fiz letras, falo corretamente o ingles e o espanhol, toco piano e, como esposa e mãe tenho me saido muito bem.
Júlio e eu, apesar das minhas frustações, nunca levantamos sequer a voz um para o outro.
Nossos filhos estão muito bem encaminhados, jamais nos deram problemas, seria uma felicidade plena se eu não sentisse que me falta algo, principalmente no que é relativo a nossa relação sexual. Não sei o que falta, se sou eu ou se
é a maneira de Júlio encarar o sexo.
O tempo vai passando e meus afazeres são tantos , que não sobra muito tempo para eu pensar em mim.
No entanto acho isso normal, pois nós mulheres somos assim dedicadas e acabamos nos repartindo em muitas, preocupadas que somos com casa, marido, filhos e vida profissional.
Temos tanto amor pra dar que vamos nos dividindo e esquecemos nosso eu, nossas vontades, nossos anseios, nossos sonhos, tudo vai  ficando armazenado, encaixotado, dentro do nosso peito.
Nem percebemos quando o vazio nos assume e passamos a agir mecanicamente como que robotizadas.
Deixamos de lado nossas vaidades e é quase como se não tivessemos mais amor próprio.
Conversando com uma amiga, minha melhor amiga diga-se de passagem, começamos a conjecturar sobre como estava nossas vidas. Eu
que nunca tenho pra quem falar sobre minhas angustias, dasabafei tudo.
Ela me diz que não se acha a pessoa certa pra me falar qualquer coisa que possa me ajudar,ão ser me indicar uma analista que sabia ser muito competente.
Eu, sempre fechada como ostra, não admitia falar de minha vida pra ninguém, ainda mais pra uma pessoa que eu nem sequer conhecia.

ANITA UMA MULHER
Episodio II
A quase consulta

A quase consulta

Estou na sala de espera, uma sala de extremo bom gosto, sóbria, aconchegante.
Estou ansiosa, com um certo receio , diria medo mesmo. Apresento-me a recepcionista que me diz em um tom amigável pra aguardar, que a próxima a ser atendida, serei eu.
Sento-me a espera e ouço um fundo musical de piano, diferentemente daquele burburinho de pessoas falando e tvs que invadiram outros consultórios.
Já passava das dezoito horas quando a moça se dirige a mim e diz:
Chegou sua vez dona Anita., pode entrar.
Entro, não vejo ninguém, fico meio sem saber o que fazer, então escuto uma voz calma e doce vindo de um outro compartimento:
Anita, pode se sentar, já lhe atendo num segundo
Sento-me. De repente ela entra. Uma senhora nos seus 62 anos, cabelos grisalhos, olhar profundo, sorriso marcante, linda mesmo.
Estende-me as mãos pra me cumprimentar, são macias, com unhas bem cuidadas.
Começa a falar-me e eu, fixada nos seus olhos, seu sorriso estou pasma, muda.
Anita? Anita? ouço-a chamando-me.
Pareço acordar de um torpor. Estava devaneando em plena consulta.
Começamos a sessao. Não sei muito bem o que foi dito ali.  Acho que não prestei atenção, tão encantada estava com aquela mulher.
De repente , senti um choque ao perceber que aquela imagem de mulher, o toque suave das suas mãos, a candura daquela voz vieram pra preencher aquela lacuna, aquele vazio que ha tanto tempo eu sentia.

ANITA UMA MULHER
episodio III
A AMIGA


Com o passar do tempo, Leila (esse era o nome dela) e eu , nos tornamos amigas, passamos a nos frequenta.
Fora do âmbito profissional, pude ver o quanto ela era meiga, carinhosa, atenciosa..
No entretanto, ao mesmo tempo que eu sentia um grande prazer com isso , o meu medo com a sua proximidade crescia.
Quando ela se aproximava eu sentia um reboliço no meu íntimo acompanhado de uma grande alegria.
Eu tentava de todas as formas não pensar mas lá no fundo do meu coração sabia o que estava acontecendo. Eu estava apaixonada por aquela mulher cativante, tão madura e ao mesmo tempo tão menina.
Seria eu lésbica e nunca havia percebido?
Pensava no que fazer. E se eu me declarasse e perdesse a amiga e a Terapeuta?
Jamais havia pensado em mulher como uma parceira. Nunca havia sentido desejo pelo sexo feminino.
Devo me afastar, matar isso dentro de mim e fugir da tentação de contar a ela dos meus devaneios.
No entanto, a cada dia que passava, mais e mais estávamos juntas , fosse em minha casa, no consultório, ou na casa dela.
O amor e o desejo estava me consumindo cada dia eu mais e mais a desejava e a amava

EPISODIO IV
REVELAÇÃO
REVELAÇÃO.


Todo mes de novembro Júlio viajava a trabalho na empresa onde trabalhava.
Ficava cerca de uma semana em congressos proferindo palestras. Nos despedimos. Confesso que a partida de Júlio me causou um certo desconforto.
Em anos anteriores eu não sentira essa insegurança, esse temor de ficar só.
O meninos, um fora cursando a Universidade e o outro práticamente na casa de Cris, sua namorada esposa.
Voltei pra cama e fiquei tentando cordenar meus sentimentos e conter minha insegurança de me sentir desprotegida.
Não sei bem quanto tempo permaneci ali so me dei conta que passara muito tempo porque o telefone tocou.
Era Leila:
- Oi querida, vou dar uma passadinha ai pra te ver, posso?
- Claro, pode vir, estou só. Explico o porque de eu estar sozinha.
Desligo o telefone, subo, entro no banho, e acho que demoro mais do que o previsto pois mal acabara de tomá-lo, ainda estava envolta na toalha, quando a campainha toca.
Fico sem saber o que fazer, ela viera mais rápido do que eu pensara ou eu tinha perdido a noção do tempo?
Recebo-a e peço que me aguarde por uns momentos, não dera tempo de escolher uma roupa, visto uma camiseta de Júlio, desembaraço os cabelos ainda molhados e vou ter com ela na sala.
Ela me olha e dá um daqueles sorrisos de  derreter  sorvete. Eu,  de camiseta, meias brancas e cabelos soltos ainda molhados, cheirando a perfume de banho, ofereço-lhe um vinho. Ficamos conversando. Eu fascinada por aquele momento tão somente nosso, sem interferencias, totalmente sós eu e ela.
O tempo muda repentinamente, raios, trovões e muita chuva. Na tv o repórter pede pra que todos permaneçam em casa pois ha vários pontos de alagamento e o trânsito está infernal.
Leila sorrindo , diz em tom de brincadeira:
-É querida, parece que teremos que dormir juntas.
Fico petrificada com a idéia. Não balbucio palavra que seja.
E então, repentinamente, ela se vira pra mim e diz:
- Vamos querida, até quando voce vai esconder da sua terapeuta o que os seus olhos há muito tempo já confessaram pra sua amada?
Travei. Não queria acreditar que ela ja percebera tudo  sem que eu falasse.
Parecia até aquelas poesias eróticas que lí em um livro chamado REFUGIOS DA ALMA CORAÇÃO de um poeta que eu adoro ler , André Ruiz. Coisa de Lispector, sei lá,  um conto.
Ela se aproximou e delicadamente me beijou, senti um frêmito de paixão em mim.
O segundo beijo me tirou do chão, nunca fora beijada assim antes .
Levitei, fui as nuvens e voltei.

ANITA UMA MULHER

EPISODIO v
COMO SE FOSSE
A PRIMEIRA VEZ

Episódio V

COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ

Subimos.
Eu, louca, cheia de paixão, de desejo mas ao mesmo tempo com medo, atordoada, confusa. Não sabia o que esperar de mim mesma diante daquela situação inusitada e jamais sentida.
Leila, com seu olhar compreensivo, com aquele sorriso meigo me acarinhava e ao mesmo tempo me acalmava , fazendo-me perder o medo. A cada segundo mais e mais eu desejava ser acariciada por aquelas mãos macias, beijada por aquela boca sequiosa de paixão. Seus seios, apesar da idade, pareciam dois montes de Venus, brancos, rijos, macios.
Sua feminilidade exalava desejos, suas essencias intimas tinham cheiro de flor.
Nos entregamos em carinhos, beijos, gemidos. Confesso que não tinha noção da realidade tantas vezes ela me havia deixado em êxtase.
Não sei quantos orgasmos tivemos. Abraçadas, de conchinha,, adormecemos, exaustas de amar.
Acordei com um barulho vindo da parte inferior da casa.
Meu Deus, quem seria?
Um dos meninos, Júlio?  Não , Júlio não podia ser,  ele havia viajado  há poucas horas.
O que fazer? Antes que eu tivesse tempo de pensar novamente, ele já estava dentro do quarto.
Me desesperei, passou toda uma tragédia em minha mente em segundos. Como expicar a traição? Como dizer a Júlio que aquilo não era uma coisa sem importancia, passageira? Como dizer a ele que eu nunca em toda a minha vida me sentira tão amada?
Enquanto ele tenta explicar o porquê da volta tão abrupta, percebe que há mais alguem no quarto.
Fica em silêncio, eu estou trêmula sem saber o que dizer.
Então, ele me surpreende. Me deixa de queixo caido ao dizer:
- Finalmente voce acordou.
- Finalmente voce descobriu o que te faltava;
- Leila sorri e estende as mãos chamando Júlio pra nos fazer companhia.
Nos entregamos totalmente os tres. Júlio, excitadíssimo me ama como jamais me amara antes.
COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ.
Acho que nossos problemas foram resolvidos.
Bem isso é apenas um conto; um sonho de um contista iniciante